Nesse rápido intervalo de tempo, somos controlados pelas zonas de conflitos que bloqueiam milhares de outras janelas, impedindo o acesso de informações que nos subsidiariam a serenidade, a coerência intelectual, o raciocínio crítico.
Um intelectual pode dar uma conferência brilhante e responder a todas as perguntas da plateia com maestria, mas quando um colega de trabalho faz uma pergunta que o contraria, pode perder a serenidade da resposta. Reagir sem elegância.
Um médico pode ser muito paciente com as queixas de seus
pacientes, mas muitíssimo impaciente com as reclamações de seus filhos. Pensa
antes de reagir diante de estranhos, mas não diante de quem ama. Não sabe fazer
a oração dos sábios nos focos de tensão, o silêncio. Só o silêncio preserva a
sabedoria quando somos ameaçados, criticados, injustiçados.
Se vivermos debaixo da ditadura da resposta, da necessidade
compulsiva de reagir quando pressionados, cometeremos erros, alguns muito
graves. Vivemos em uma sociedade barulhenta, que frequentemente detesta o
silêncio. Cada vez mais percebo que as pessoas estão perdendo o prazer de
silenciar, se interiorizar, refletir, meditar.
O dito popular de contar até dez antes de reagir é imaturo,
não funciona. O que estou propondo é o silêncio filosófico. O silêncio não é se
aguentar para não explodir, o silêncio é o respeito pela própria inteligência.
É o respeito pela própria liberdade, a liberdade de se obrigar a reagir em
situações estressantes. Quem faz a oração dos sábios não é escravo do binômio
do bateu-levou.
Quem bate no peito e diz que não leva desaforo para casa,
não decifrou o código de pensar nas consequencias de seus atos. Quem se orgulha
que vomita para fora tudo o que pensa, machuca quem mais deveria ser amado. Não
decifrou a linguagem do autocontrole.
Não existem relações perfeitas. Não existem almas gêmeas,
que tenham os mesmos gostos, pensamentos e opiniões iguais o tempo todo, a não
ser no cinema. Decepções fazem parte do cardápio das melhores relações. Nesse
cardápio, precisamos do tempero do silêncio para preparar o molho da
tolerância.
Para conviver com máquinas, não precisamos do silêncio nem
da tolerância, mas com seres humanos elas são fundamentais. Ambas são frutos
nobres do código da autocrítica, do código da capacidade de pensar antes de
reagir. Preservam a saúde psíquica, a consciência, a tranquilidade.
O silêncio e a tolerância são o vinho dos fortes, a reação
impulsiva é a embriaguez dos fracos. O silêncio e a tolerância são armas de
quem pensa, a reação instintiva é a arma
de quem não pensa. É muito melhor ser lento no pensar do que rápido em
machucar.
É preferível conviver com uma pessoa simples, sem cultura
acadêmica, mas tolerante, do que com um ser humano de ilibada cultura saturada
de radicalismo, egocentrismo, estrelismo. Sabedoria e autocrítica não se
aprende nos bancos de uma escola, mas no traçado da existência.
Devemos pensar como adultos e sentir como criança. Quem
inverte esses valores nunca atinge a maturidade.
Todos temos uma criança alegre, curiosa, vivaz, dentro de
nós, mas poucos a deixam respirar. Envelhecemos rapidamente no único lugar em
que deveríamos sempre ser jovens.
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