BEM VINDO AO SER-PARA-AÇÃO

GRUPO PARA MULHERES

O Ser-Para-Ação foi criado com o intuito de ajudar mulheres que estão, neste momento, vivendo término de relacionamento. Seja casamento, noivado ou namoro, as mulheres sofrem com o fim da relação. Neste grupo iremos abordar questões que causam sofrimento, de forma a elaborar esta dor. Temos também como objetivo trabalhar a autoestima e a autoconfiança para que possam pensar numa relação futura.


domingo, 30 de junho de 2013

TÊNIS OU FRESCOBOL - A ARTE DE CONVERSAR OU DISPUTAR PODER











Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol.
Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele : "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: "Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?" tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar".
Sherazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música.
A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo: "Eu te amo, eu te amo..."Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, "eu te amo" não quer dizer mais nada.
É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado; "Erótica é a alma".
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objeto sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora do jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. 
Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre.
O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir... e o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado, mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho para lá, sonho pra cá... 
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... o que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.

O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

sábado, 29 de junho de 2013

Romantismo Imaginário ou Encontro Real



Sou acusado de subtrair o encantamento do amor desde 1976.
Na época achava como todo mundo, que ninguém podia ser feliz sozinho e que, portanto, o essencial era acertar na escolha do parceiro. Como essa opção decorre de um ato racional, fui acusado de tentar impor rigor científico a algo que deveria acontecer por meios mágicos, pelas flechadas estabanadas do Cupido.
Sou médico, não poeta, de modo que é meu dever dissecar os temas que estudo. Analisar os sentimentos não significa menospreza-los.
A maioria dos que se ressentem do fim do romantismo só o experimentou na fantasia. Poucos viveram um amor pleno, derivado do encontro de sua metade, ou compartilharam com ela o mesmo teto. Quantos conseguiram construir juntos uma família sadia e se manter cúmplices, amigos, amantes, tudo ao mesmo tempo? E quantos sonharam com essa sintonia enquanto amargavam no dia a dia os dissabores do convívio com alguém que não o completava?
Parece que, menos do que a paixão romântica, o que essas pessoas temem perder são os sentimentos conflitantes que as envolvem. Lamentam o fim das dores de estômago, da sensação de vazio, das lembranças que a trilha sonora dos desencontros evocam. Choram o fim de algo que trouxe mais sofrimento do que prazer e alegria.

O que tenho testemunhado em mais de trinta anos de carreira me faz acreditar que caminhamos para uma época de ouro. O conceito das metades começa a ceder espaço a uma concepção mais madura: de que somos unidades. Esse avanço deve ser encarado com alegria, pois nos leva para mais perto da verdade. E, quanto mais próximos da realidade, maiores nossas chances de encontrar a felicidade. Ainda que o sentimento de que somos fração nos domine, devemos nos esforçar para nos transformarmos em unidades.
A independência, a descoberta de como é prazeroso passar um tempo sozinho e outros tipos de convivência nos ajudam a compreender nossa condição de unidades. Isto é ótimo, pois abre caminho para novos paradigmas amorosos: em vez de metades que se fundem indivíduos únicos que se aproximam. Os novos relacionamentos vão se basear no respeito, na admiração, na confiança mútua, no encantamento sexual e no fascínio de cada um pelo jeito do outro ser. Ternura vai existir sempre.
Muitos elementos racionais estarão envolvidos nesses encontros – será que, de forma camuflada, não foi sempre assim? Porém, nem por um minuto imagino que eles sobrevivam sem ternura, sem os momentos mágicos de completude e de plena harmonia que sempre caracterizaram os sonhos românticos.

Ao contrário, acredito que seremos finalmente capazes de vivenciar aquilo com que, até hoje, só fomos capazes de sonhar.
A introdução explícita da razão nos processos de escolha amorosa não é um fator negativo nem diminui as chances de o casal viver todas as emoções relacionadas ao amor.

Aliás, não creio que exista antagonismo entre emoção e razão. Não entendo porque as pessoas insistem em pensar dessa forma. Talvez seja o meio que encontram de passar um verniz de dignidade nos próprios desacertos: se me encanto com alguém com quem não me afino e com quem só consigo viver às turras, deve ser porque o amor é mesmo irracional.
Elaborar um consolo para seus erros tem nome.
E isso sim, é racionalizar. 


Flávio Gikovate

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O que é ser íntimo de alguém?


Temos pessoas com quem convivemos todo o tempo, colegas de trabalho ou mesmo familiares, que pouco sabem de nossas angústias, medos, desejos e alegrias.

Intimidade é diferente de convivência, conviver não é sinônimo de ser íntimo , apesar de muitos acreditarem nisso. Também é diferente de mistura, de simbiose. Não é possível ser íntimo de alguém se não houver individualidade. Primeiro ser, para depois compartilhar. Não se compartilha o que não se tem. 

Nascemos do aconchego do útero materno, da sensação de segurança que ele nos proporciona. Naturalmente desejamos nos relacionar, somos seres sociais, nascemos carentes de afeto, atenção e aceitação. O ser humano tem uma demanda de amor, busca amar e ser amado todo o tempo. Nascemos e imediatamente precisamos de afeto para nosso processo de crescimento emocional, da mesma forma que precisamos de cuidados para nos desenvolvermos fisicamente. Recebemos da figura materna o amor incondicional, aquele tão buscado em nossa vida: ser amado pelo que somos, o pacote completo.

E o que isso significa? Significa que buscamos em nossas relações, na maioria das vezes de forma inconsciente, essa sensação primária de plenitude e segurança, refletida em maior grau nas relações de intimidade. 

Intimidade é a possibilidade de relação mais próxima que implica em confiança. Confiar significa acreditar que seremos aceitos como somos, mas, não apenas pelo outro; para isso é preciso confiarmos em nós mesmos, em nossa capacidade de sermos genuínos, percebendo o que temos para oferecer numa relação tranqüila e prazerosa com o mundo. Contudo, é necessário o sentimento de esperança e fé no bom que existe no humano. Confiança se adquire através das relações e pela forma de relação que se estabelece, é um sentimento delicado e dinâmico, ela é como planta: se não regar morre. 

Intimidade também implica em entrega. É uma via de mão dupla, ser íntimo é ser cúmplice, é estar ao lado do outro e não misturado ao outro. Trata-se de uma proposta de relação mais profunda, que implica em envolver-se, doar-se e saber receber o outro, aceitar e aceitar-se, é troca plena, é Encontro no sentido Moreniano.*

Você pode ser íntimo de um amigo com quem conversa sobre varias coisas e não ser íntimo da pessoa com quem você dorme. Os medos, crenças e as inseguranças são os grandes responsáveis pelas dificuldades de envolvimento. Algumas pessoas confundem intimidade com submissão, alienação e mistura, outras entendem como fraqueza, falta de individualidade ou demonstração de carência.

Nossa sociedade competitiva, capitalista e violenta, torna as pessoas cada vez mais acuadas e descrentes no humano e consequentemente em si próprias. O medo e a competição, fazem com que as pessoas se relacionem apenas com parte do outro - àquela que deseja superar – o que impede que a relação seja verdadeira. Geralmente quando pergunto: porque não assumir que é uma dificuldade sua? ... a resposta é na maioria das vezes: ...eu??? falar de dores, limites, angústias... para que? Vou estar só me expondo! Ninguém vai resolver minhas questões!.
Em parte é verdade, nossas dificuldades, na grande maioria das vezes só podem ser resolvidas por nós mesmos, mas nem sempre temos os instrumentos ou conhecemos os caminhos para resolve-las, aí que entra o outro, com sua vivência e experiência de vida. 

Você já pensou se cada um tivesse que reinventar a escrita e a palavra sozinho, para poder se comunicar???... imaginem.. e se não tivesse ninguém disposto a aprender, só a ensinar??? Quanta perda de tempo!!! 

Quando nos relacionamos percebemos que não estamos sós, não somos os únicos a ter dificuldades e sofrimentos; temos a capacidade de aprender com nossos erros e acertos e com os erros e acertos dos outros. Por isso que a relação de intimidade deve ser cultivada, escolhida a dedo. Faz parte de nosso desenvolvimento emocional aprender a escolher entre as pessoas de nosso convívio, aquelas que merecem nossa confiança, ou seja trata-se de uma questão de auto proteção, da capacidade de aprender a cuidar de si mesmo. 

Ser íntimo significa compartilhar tudo? Dizer tudo, o que pensa e sente? até os pensamentos? Se pensamentos fossem para ser ouvidos eles aconteceriam em alto e bom som! 

Você deve estar pensando, mas então eu não deveria compartilhar minhas idéias, sentimentos e pensamentos? É claro que sim!, mas escolhendo com quem e o que compartilhar, nem sempre o outro agüenta ou está preparado para o que estamos pensando ou desejando.

Aqui retornamos na questão da individualidade. Costumo brincar dizendo que, até dentro do útero materno temos a proteção de uma bolsa, sabiamente colocada pela natureza. Na verdade nascemos concretamente de dentro de outra pessoa, mas não ficamos fisicamente em nenhum momento misturados ao outro, apenas emocionalmente. Talvez seja por isso que é tão comum a confusão entre capacidade de se envolver intimamente e a mistura relacional. 

Segundo a visão de desenvolvimento humano proposto por J.L. Moreno, criador do Psicodrama, a Matriz de Identidade emocional normal se estabelece a partir das relações que o indivíduo faz. Através de nossas vivências caminhamos de um momento de total Indiferenciação com o mundo (nascimento) para uma relação télica e plena onde seja possível trocar de lugar com o outro entendendo suas motivações pelos seus olhos (maturidade emocional), sem com isso, desrespeitar nossas crenças, valores, e individualidade. Moreno chamou o ápice dessa fase de Encontro, onde podemos novamente- lembrando nosso nascimento - nos misturar com o outro, sem nos perdermos – porque agora existe um eu delimitado - e sair revitalizados, enriquecidos. Seria o ponto máximo de diferenciação de identidade.
Cada pessoa tem suas motivações, resultado de sua história de vida e sua educação, somada às suas características inatas. A saúde emocional e mental de cada indivíduo é que determina como cada um vai suprir essas necessidades. Esta saúde interna se desenvolve como resultado de um processo de maturação do indivíduo, e obedece uma seqüência de desenvolvimento humano, segundo a teoria do desenvolvimento Moreniana.

Para nos envolvermos em qualquer tipo de relação, seja uma relação de amizade, profissional, amorosa ou simplesmente social, primeiro temos que conhecer nossa individualidade e o que significa um mínimo de noção de nossos desejos, características, medos, dificuldades e gostos; enfim, um pouco de nossa singularidade. Falei em mínimo, porque trata-se de uma busca de AUTOCONHECIMENTO que acontece durante nossa vida. Não acredito que alguém possa esgotar esse processo, porque somos seres dinâmicos e estamos aprendendo e consequentemente em transformação todo o tempo.
A maturidade enriquece e modifica. 
Portanto para que você possa construir uma relação de intimidade com alguém deve estar atento a esse processo de busca de si mesmo, à sua capacidade para amar e principalmente, para sentir-se amado.

* de J.L. Moreno, criador do Psicodrama




domingo, 9 de junho de 2013


Casei-me uma vez. Entrei feliz ao som dos Beatles. Durou 30 meses – o tempo do contrato de aluguel – e a separação foi para mim uma alegria maior. Admito que minha experiência foi um caso à parte. Aquela relação não teria ido longe, independentemente do formato.
Mas, se a cada dia mais pessoas se casam, a cada dia mais casais se separam. Meu irmão costuma dizer que o segundo casamento é o que dá certo. Entendi isso depois que me separei. Logo me apaixonei por um homem que também havia sido casado. Vivemos uma união em casas distintas, e, como reza o ritual que não fizemos, a morte nos separou. Mas a experiência anterior ajudou no cuidado que tivemos um com o outro nessa segunda chance. Aprendi lições que o tempo vem confirmando.
Muita gente se casa “para os outros”, não “para si mesmo”. Prefiro o amor silencioso e quieto um sentimento que não foi feito para todo mundo frequentar.
Casamento é a tentativa de fortalecer um laço que tem a fragilidade como essência – e aí mora a sua magia. Deve-se tomar cuidado com a armadilha de ter que ser para sempre. A obrigação é inimiga do desejo. Ignorar a promessa de eternidade talvez seja um bom começo para quem quer ficar junto o resto da vida. Para uma relação levam-se problemas, histórias, medos, frustrações. Mas não é essencial casar-se com a fila do banco que o outro teve que frequentar, nem com a irritação depois de um dia de trabalho. É importante dar colo, mas não pode ser colo o tempo todo. Dividimos com o outro as coisas difíceis na intenção de que elas se dissipem, não na de que aumentem de tamanho. Se for somar que sejam as alegrias.
Casamento não é nem pode ser fusão. 1 + 1continua sendo igual a 1 + 1. Cuidado com a vontade de ser dono da outra pessoa – já é tão difícil sermos donos de nós mesmos. O amor é feito de matéria sutil, e seu alicerce é justamente a impossibilidade de “ter” o outro. Quando o outro não está garantido, fazemos mais por ele. É sempre tempo de cultivar a delicadeza.

Muitos só entendem isso depois que se separam. Aí entra o raciocínio do meu irmão: numa segunda vez, erra-se menos. Quem já se separou certamente sabe o que é viver sozinho. E é preciso saber viver só para viver bem a dois.
Quem vive só se mobiliza para resolver seus problemas, não fica à espera de que o outro o faça. Quem vive só cultiva hábitos próprios, conjuga os verbos no singular. O plural é lucro. É fundamental preservar a autonomia, ou a relação se torna um depositário das mazelas e dos problemas mútuos.

Deve haver um jeito de reservar o melhor de nós para o outro e guardar o pior para nós mesmos. Preservar pequenos mistérios que nos mantêm interessantes. Há uma alquimia no exercício da conquista, do cuidado, da atenção.
É preciso cuidar do amor como planta frágil que é. Água demais, sol de menos, muito tempo no canto errado da varanda: tudo isso pode fazer murchar o que antes era exuberante. Para florir cada planta tem seu jeito. Como cada relação tem seus mistérios e idiossincrasias.
Não tenho dúvida: o amor é feito de presenças e faltas. E é na falta que se apura a vontade de estar junto. Acordar juntos é gostoso; acordar com saudade também. É que outra essência do amor é a liberdade: é preciso espaço para ele crescer confortável.

Amor pede rotina. Mas pede a suavidade de não fazer tudo sempre igual. Pede o cultivo da intimidade sem excessos. Amor é construção. Um tijolo a cada dia. É um trabalho que não termina nunca.
Talvez seja esse o significado da expressão: “Felizes para sempre”.

Cris Guerra – Revista Encontro- Março/

sábado, 8 de junho de 2013

SOBRE ESTAR SÓ - Gikovati


Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência em que se responsabiliza o outro pelo seu bem estar. A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu no romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século.
O amor romântico parte da premissa de que somos fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem desta raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante.
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é  diferente. Com o avanço tecnológico que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro com o qual estabelecem um ele, também se sente uma fração, Não é nenhum príncipe nem salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem. O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando para se adaptar ao mundo que fabricou.
Estamos entrando na era da individualidade o que não tem nada a ver com o egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor tem nova feição e novo significado. Visa a aproximação de dois inteiros e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho mais estará preparado para uma boa relação afetiva.
A solidão é boa. Ficar sozinho mão é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.
Relações de dominação e de concessão exageradas são coisas do século passado
Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes pensamos que o outro é nossa alma gêmea e na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deviam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação há p aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém. Algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.

“A pior solidão é aquela que se sente quando acompanhado.”
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domingo, 2 de junho de 2013

DIVÓRCIO


Por - Arnaldo Jabor
Meus amigos separados não cansam de perguntar como consegui ficar casado 30 anos com a mesma mulher. As mulheres sempre mais maldosas que os homens, não perguntam a minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo. Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo. Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos sabem, mas dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue:

Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém agüenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade já estou em meu terceiro casamento – a única diferença é que casei três vezes com a mesma mulher.

Minha esposa, se não me engano está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes que eu. O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher.

O segredo no fundo é renovar o casamento e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal.

De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, seduzir e ser seduzido. Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial?

Há quanto tempo não fazem uma lua-de-mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção?
Sem falar dos inúmeros quilos que se acrescentaram a você depois do casamento. Mulher e marido que se separam perdem 10 kg em um único mês, por que vocês não podem conseguir o mesmo?

Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a freqüentar lugares novos e desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo, a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge.

Vamos ser honestos: ninguém agüenta a mesma mulher ou o mesmo marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é a sua esposa que está ficando chata e mofada, é você, são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração.

Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo circuito de amigos.

Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento.

Mas se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior.

Não existe essa tal “estabilidade do casamento” nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos.

A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma “relação estável”, mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensado em fazer no inicio do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, porque não fazer na própria família?

É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo. Portanto descubra a nova mulher ou o novo homem que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo interessante par. Tenho certeza que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso de vez em quando é necessário se casar de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.

Como vê, NÃO EXISTE MÁGICA – EXISTE COMPROMISSO, COMPROMETIMENTO E TRABALHO – é isso que salva casamentos e famílias.