BEM VINDO AO SER-PARA-AÇÃO

GRUPO PARA MULHERES

O Ser-Para-Ação foi criado com o intuito de ajudar mulheres que estão, neste momento, vivendo término de relacionamento. Seja casamento, noivado ou namoro, as mulheres sofrem com o fim da relação. Neste grupo iremos abordar questões que causam sofrimento, de forma a elaborar esta dor. Temos também como objetivo trabalhar a autoestima e a autoconfiança para que possam pensar numa relação futura.


sábado, 29 de junho de 2013

Romantismo Imaginário ou Encontro Real



Sou acusado de subtrair o encantamento do amor desde 1976.
Na época achava como todo mundo, que ninguém podia ser feliz sozinho e que, portanto, o essencial era acertar na escolha do parceiro. Como essa opção decorre de um ato racional, fui acusado de tentar impor rigor científico a algo que deveria acontecer por meios mágicos, pelas flechadas estabanadas do Cupido.
Sou médico, não poeta, de modo que é meu dever dissecar os temas que estudo. Analisar os sentimentos não significa menospreza-los.
A maioria dos que se ressentem do fim do romantismo só o experimentou na fantasia. Poucos viveram um amor pleno, derivado do encontro de sua metade, ou compartilharam com ela o mesmo teto. Quantos conseguiram construir juntos uma família sadia e se manter cúmplices, amigos, amantes, tudo ao mesmo tempo? E quantos sonharam com essa sintonia enquanto amargavam no dia a dia os dissabores do convívio com alguém que não o completava?
Parece que, menos do que a paixão romântica, o que essas pessoas temem perder são os sentimentos conflitantes que as envolvem. Lamentam o fim das dores de estômago, da sensação de vazio, das lembranças que a trilha sonora dos desencontros evocam. Choram o fim de algo que trouxe mais sofrimento do que prazer e alegria.

O que tenho testemunhado em mais de trinta anos de carreira me faz acreditar que caminhamos para uma época de ouro. O conceito das metades começa a ceder espaço a uma concepção mais madura: de que somos unidades. Esse avanço deve ser encarado com alegria, pois nos leva para mais perto da verdade. E, quanto mais próximos da realidade, maiores nossas chances de encontrar a felicidade. Ainda que o sentimento de que somos fração nos domine, devemos nos esforçar para nos transformarmos em unidades.
A independência, a descoberta de como é prazeroso passar um tempo sozinho e outros tipos de convivência nos ajudam a compreender nossa condição de unidades. Isto é ótimo, pois abre caminho para novos paradigmas amorosos: em vez de metades que se fundem indivíduos únicos que se aproximam. Os novos relacionamentos vão se basear no respeito, na admiração, na confiança mútua, no encantamento sexual e no fascínio de cada um pelo jeito do outro ser. Ternura vai existir sempre.
Muitos elementos racionais estarão envolvidos nesses encontros – será que, de forma camuflada, não foi sempre assim? Porém, nem por um minuto imagino que eles sobrevivam sem ternura, sem os momentos mágicos de completude e de plena harmonia que sempre caracterizaram os sonhos românticos.

Ao contrário, acredito que seremos finalmente capazes de vivenciar aquilo com que, até hoje, só fomos capazes de sonhar.
A introdução explícita da razão nos processos de escolha amorosa não é um fator negativo nem diminui as chances de o casal viver todas as emoções relacionadas ao amor.

Aliás, não creio que exista antagonismo entre emoção e razão. Não entendo porque as pessoas insistem em pensar dessa forma. Talvez seja o meio que encontram de passar um verniz de dignidade nos próprios desacertos: se me encanto com alguém com quem não me afino e com quem só consigo viver às turras, deve ser porque o amor é mesmo irracional.
Elaborar um consolo para seus erros tem nome.
E isso sim, é racionalizar. 


Flávio Gikovate

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